Esta é a outra foto menos conhecida onde figura a Torre do Mar antes do seu desmantelamento em 1888. São bem visíveis a Principal, encostada junto à Torre, parte dos edifícios que “assomam” para a Praça da Ribeira e que ainda lá estão. São visíveis o palácio da Galeria e a Igreja de Santa Maria e o castelo dominando a paisagem, tal como há 100 anos. Esta foto é o único testemunho visual existente do antigo palacete dos Mendonça Corte Real, que, tal como o Palacete dos Marques Freire – o único ainda hoje existente na margem direita – que teria paredes meias com o rio. No palacete dos Corte Real se teria albergado o rei D. Sebastião durante a sua visita a Tavira.
Vê-se o que parece ser uma rampa de areia ou pequeno cais improvisado por onde os pescadores descarregariam. Nesta imagem e na anterior do “Prospecto de Tavira” de Sande de Vasconcelos é visível que as embarcações de pesca de menor calado subiam o rio para descarregar o peixe. Nesta foto não é visível a ponte, mas consegue-se ver que as margens do rio não estavam consolidadas como hoje em dia, sob uma estrutura de pedra empilhada e talhada. Em parte, a requalificação do baixa ribeirinha feita por José Pires Padinha, o autarca por detrás da requalificação, ao elevar as margens do rio com blocos de pedra talhada sobrepostas, contemplaria uma parte de salvaguarda contra as enchentes das enxurradas invernais do rio e das marés vivas. Portanto naquele tempo, haveria uma verdadeira “praia fluvial” na margem direita do Gilão, local onde os barcos que subiam o Rio embarcavam e desembarcavam.
A nova baixa ribeirinha encetada por Padinha dotaria os tavirenses de uma maior segurança relativamente às subidas do nível de água do Gilão, e ao mesmo tempo ofereceu um espaço lúdico e de comércio (o novo “Mercado da Ribeira”) para a população junto do seu meio natural de subsistência e convivência – o Rio .
Por outro lado, mostrava que a cidade de Tavira tinha uma classe social em ascenção que finalmente tinha acesso aos proveitos das explorações das armações de atum. Aquilo que antes era um exclusivo quase dos monarcas – os lucros das armações do atum – foram liberalizados com a criação com a Companhia de Pescarias do Algarve ainda no tempo do Marquês do Pombal. Mais tarde, outras companhias de pesca do atum, de iniciativa totalmente privada e exploradas por burgueses locais apareceram – como a Balsense. Um grupo de tavirenses burgueses (fora a nobreza rural tradicionalista) saltou para o palco da liderança da autarquia e racionalizou a cidade, dotando-a de um equipamento que ainda hoje se conserva, com algumas alterações posteriores – mas no essencial a baixa ribeirinha tavirense oitocentista mantêm-se, com os seus gradeamentos de ferro nas margens altas do rio.
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