Apelidos de Tavira – Bagarrão

Imagem com propósitos meramente ilustrativos, gerada por IA

No último artigo abordámos os Cataludo, e agora, para continuar esta série, vamos abordar outro apelido específico de Tavira – os Bagarrão – e nestes, a origem não é tão simples, porque neste caso não temos um único antepassado a que possamos, sem sombra de dúvida atribuir um ancestral único, isto porque o apelido não aparece pela primeira vez num casamento mas numa certidão de baptismo em que o pai aparece como sendo o primeiro a usar o apelido, sendo que não usou esse apelido aquando do casamento.

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Apelidos de Tavira – Cataludo

Iremos então começar pelo apelido Cataludo, cujo primeiro representante vivo foi José Correia Cataludo, nascido em 7 de Junho de 1837 e baptizado na Igreja de Santa Maria de Tavira. Obviamente não foi registado pelo padre com o novo apelido, sendo que os pais e avós nenhum usava o mesmo, sendo o pai António Pires e a mãe Antónia Ritta, e os avós paternos Joaquim Pereira e Anna Maria Joaquina e os maternos José Correia e Maria Antónia.

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O posto da guarda fiscal

o antigo e centenário posto da guarda fiscal desempenhou um papel na expansão urbana da aldeia

 

Para quem costuma frequentar Cabanas, de certeza já deparou com o antigo posto da guarda fiscal erigido numa subida no acesso de saída da vila pela Rua Vasco da Gama.
Este foi o primeiro edifício público construído em Cabanas (se considerarmos o Forte fora desta equação e vamos ver porquê), e sendo o primeiro local a receber uma unidade militarizada (uma vez que o forte, uma vez mais, é anterior à criação da vila), representando a sua construção um ponto um eixo na expansão do então incipiente lugarejo conhecido por Cabanas da Armação.
A Guarda fiscal foi criada em 1885 pelo terceiro governo liberal de Fontes Pereira de Melo e tornou-se rapidamente uma guarda presente em todo o país, nas zonas limítrofes do “rectângulo” continental português, com um contacto muito directo com as populações. As suas funções eram controlar o contrabando, verificar a qualidade dos produtos das actividades do sector primário e a vigilância da costa.

Em Cabanas, temos notícia de que o Forte de São João da Barra conservou uma guarnição de artilharia até 1896, quando esta foi substituída por um corpo da guarda fiscal, que lá permaneceu quando em 1905, quando o proprietário da fazenda da Barroca, Joaquim de Mendonça e Melo Trindade, um dos maiores proprietários rurais do concelho, adquiriu a propriedade do Forte em troca de subsidiar a construção do actual posto.

Porque motivo foi feito este negócio ? Podemos apenas com alguns indícios tentar reconstruir quais os motivos.

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As “festas dos mouros” na Gomeira no século XVI

A Torre do Tombo permite fazer pesquisas no seu vasto acervo através do seu repositório online, o que nos permite preparar de antemão uma visita ao principal Arquivo Nacional, elegendo os documentos que pretendemos consultar. Existem também, para uma boa parte dos documentos que maior possibilidade de interesse, a representação digital dos mesmos, o que permite que possamos consultá-los sem ter de nos deslocarmos a Lisboa. Entre esses documentos pré-digitalizados estão os registos paroquiais de baptismo de praticamente todas as igrejas paroquiais do país desde o século XVI ao XIX, documentos da chancelaria de todos os reis de Portugal, forais medievais e novos, processos de inquisição e, mais recentemente, relatórios da PIDE.

Por isso, fui indagar pelas presenças do topónimo mais antigo da minha freguesia, e assim, quais as mais antigas menções à Gomeira pesquisáveis no repositório online (digitarq: https://digitarq.arquivos.pt/) da Torre do Tombo …

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Cartografia Aérea Costeira da Ilha da Abóbora

Estas fotos fazem parte do acervo do Arquivo Histórico da Marinha e contêm vistas da Ilha da Abóbora desde a Barra de Tavira (na época Barra do Cochicho) até à Armação da Abóbora. Foram tiradas por meios aéreos em Fevereiro de 1951.

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Três exemplos do Barroco em Tavira

Tavira possui um vasto espólio principalmente a nível religioso, sendo uma das cidades com maior número de igrejas por número de habitantes, porventura resultado de ser uma das cidades mais antigas do Algarve, em virtude de ser mesmo a mais populosa da província, segundo a crónica do Reino do Algarve de Frei de São José, em 1577 (Viegas, 1990).

Fachada da Igreja de São Roque, Tavira

Entre as suas especificidades encontrava-se a de ser um ponto de importância comercial e estratégico, dada a sua localização entre o Mediterrâneo, o Atlântico e a costa africana. Neste trabalho vamos falar de alguns casos particulares de peças e estruturas que ornamentam igrejas de Tavira relativamente à época do Barroco.
O período conhecido por Barroco estende-se por dois séculos a partir do fim do século XVI e segue o movimento de Contra-Reforma na tentativa de divulgar a sua mensagem de pedagogia e festividade através da arte (Lameira, 2001, p.1).. Em vez da sobriedade, linhas firmes, proporção e discrição das formas da Renascença, o Barroco impõe-se com a sua animação, fulgor, exuberância e exímia decoração dos elementos. Tais características infundiam no espectador a admiração e o domínio espiritual do terreno.(Santana, 2010, p.73).

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O milagre da fonte da Gomeira

E ao atingir Tavila, e mal ao atravessar a ponte, Genoveva Pessanha pôde contemplar, o rio pleno de naus com todas as formas de velas e feitios, de todas as cores, umas acabadas de chegar, a ancorar e a iniciar o desembarque, e uma azáfama de gente que pareciam formigas vistas de longe, ao longe da estreita margem direita do Gilão, desde a Torre do Mar até perder-se lá ao fundo, onde se via o reflexo do Sol, onde as águas do rio finalmente encontravam descanso em mar aberto. Parecia que o próprio rio resplandecia de ouro contagiado pelas riquezas que as naus transportavam. O toque de Midas havia atingido o Gilão !

Samuel Viana (‘O milagre da Fonte da Gomeira’)

Em meados do século XV, em plena expansão marítima portuguesa, Tavira (aqui chamada Tavila), no leste do Algarve (Portugal) é um importante local de suporte às expedições no norte de África e ponto de contactos comerciais entre o Atlântico e o Mediterrâneo. Lidera a alfândega Diogo Lopes da Franca, descendente de uma família genovesa radicada em Tavila. Um estranho mau agoiro paira sobre a família, mas isso não impede Diogo Lopes de manter o seu prestígio e melhorar os rendimentos das terras que lhe foram adjudicadas. Para isso, vai contar com uma ajuda inesperada e no final, uma mão sobrenatural intervém para redimir os acontecimentos. A maior parte dos personagens foram figuras históricas reais, como os Corte Reais e os Pessanhas, que na altura viveriam numa das mais importantes localidades algarvias.

Todas as terras e regiões merecem ter a sua história e, a pensar nisso, decidi dar asas à criatividade e conceber um conto para “dar vida”, com base em factos e personagens históricos, a uma obra de ficção que tenta, juntando acontecimentos ocorridos em meados do século XV, em plena expansão portuguesa. Em 2018 lancei um pequeno rascunho no blog, mas agora decidi finalmente paginar e dar um aspecto “acabado” ao livro, estando disponível para aquisição nos locais abaixo apresentados.

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Um estudo demográfico da paróquia da Conceição de Tavira (1750-1890)

Aconteceu por acaso fazer uma pesquisa sobre a freguesia no Google Scholar, um motor de busca da Google dedicado especialmente a publicações científicas. E por acaso encontrei o documento que segue em epígrafe neste artigo, escrito por J.A. de Faria Pinto. Nele, o autor sumarizou o seu estudo dos registos paroquiais da freguesia debatendo os resultados do ponto de vista da natalidade, fecundidade, mortalidade e mobilidade.

O período segue de 1686 a 1890, com interrupções, sendo que na altura da redacção do documento (1998) por imperativos legais a consulta dos registos posteriores a esse ano não era possível.

Em termos breves, o autor descreve em traços largos o ambiente geo-social da freguesia: que a mesma tem uma área serrana onde impera a monocultura de cereais em contraste com o litoral onde são mais vulgares as culturas de sequeiro. O autor cita duas datas: 1732, data da constituição da Companhia de Pescas da Armação do Medo das Cascas e 1772, quando o Marquês de Pombal devolveu a propriedade da serra de Tavira aos montanheses após a queixa por partes deste do sr. Vaz Velho à autoridade central (ver Os “Vaz Velho” de Tavira – a delacção ). No primeiro caso foi a principal razão da constituição da povoação de Cabanas, e o autor refere que a população da localidade litoral nunca chegou a superar o efectivo populacional das gentes da serra.

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