O posto da guarda fiscal

o antigo e centenário posto da guarda fiscal desempenhou um papel na expansão urbana da aldeia

 

Para quem costuma frequentar Cabanas, de certeza já deparou com o antigo posto da guarda fiscal erigido numa subida no acesso de saída da vila pela Rua Vasco da Gama.
Este foi o primeiro edifício público construído em Cabanas (se considerarmos o Forte fora desta equação e vamos ver porquê), e sendo o primeiro local a receber uma unidade militarizada (uma vez que o forte, uma vez mais, é anterior à criação da vila), representando a sua construção um ponto um eixo na expansão do então incipiente lugarejo conhecido por Cabanas da Armação.
A Guarda fiscal foi criada em 1885 pelo terceiro governo liberal de Fontes Pereira de Melo e tornou-se rapidamente uma guarda presente em todo o país, nas zonas limítrofes do “rectângulo” continental português, com um contacto muito directo com as populações. As suas funções eram controlar o contrabando, verificar a qualidade dos produtos das actividades do sector primário e a vigilância da costa.

Em Cabanas, temos notícia de que o Forte de São João da Barra conservou uma guarnição de artilharia até 1896, quando esta foi substituída por um corpo da guarda fiscal, que lá permaneceu quando em 1905, quando o proprietário da fazenda da Barroca, Joaquim de Mendonça e Melo Trindade, um dos maiores proprietários rurais do concelho, adquiriu a propriedade do Forte em troca de subsidiar a construção do actual posto.

Porque motivo foi feito este negócio ? Podemos apenas com alguns indícios tentar reconstruir quais os motivos.

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A “Typographia Burocratica”

Há 140 anos, uma tipografia em Tavira notabilizou-se por uma ideia inovadora na altura: publicação dedicada apenas a anúncios classificados. Ideia de um parente de Fernando Pessoa. Foi a então “Typographia Burocratica”.

Antigas instalações da Tipografia na Rua Nova Pequena (1). A tipografia ocupava vários edifícios deste lado da rua (ver imagem seguinte) – do 1 ao 3 e do 7 ao 11 (5 portas) – o que dá para ter uma ideia da dimensões das suas instalações.

A Typographia Burocratica foi criada em Tavira, em 1882 por João Daniel Gil Pessoa (2) (3), primo irmão do pai de Fernando Pessoa, com instalações inicialmente na actual rua Jacques Pessoa nº5 e 7 (4). De lá mudou-se para aquelas que vieram a ser as suas instalações de maior duração, na artéria então conhecida por Rua Nova Pequena. Aí ocupou o espaço de 5 portas – quase todo o lado leste da rua.

O verdadeiro aspecto inovador da tipografia de João Gil Pessoa – para além da impressão de formulários, cadernos e outro material de escrita destinados a escriturários como ele próprio – foi o de criar uma publicação periódica dedicada exclusivamente a publicidade, o que hoje chamaríamos páginas de classificados ou páginas amarelas, mas que eram um conceito inovador para época. Essa publicação assumiu o nome Jornal de Anúncios de Tavira. Depois, através de uma rede de correspondentes, alargou o âmbito das publicações, criando novas versões de um Jornal de Anúncios para várias localidades algarvias (5) [1].

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  • (1) actualmente Rua Alexandre Herculano, ao virar da esquina oeste dos Paços do Concelho, onde se encontra a suposta efígie de Paio Peres Correia
  • (2) Empreendedor tavirense, trabalhou na Comarca de Tavira como escrivão, e para além da tipografia criou a Transportadora Tavirense que permitiu as primeiras carreiras entre Tavira e Lisboa e a moagem/panificadora no antigo Convento das Bernardas
  • (3) as escrituras redigidas por João Pessoa, incluídas no acervo documental do notariado de Tavira, estão guardados no Arquivo distrital de Faro, e cobrem um período de 1877 a 1901
  • (4) a rua marginal esquerda do rio, desde a Ponte Romana até à Ponte Provisória
  • (5) Alcoutim, Vila Real, Olhão, Faro, Loulé, Albufeira, Lagoa, Silves, Monchique, Portimão, Lagos, chegando inclusivamente a editar também para Cuba e Mértola, no Alentejo estavam entre as localidades cada uma com o seu Jornal de Anúncos
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A primeira referência a “Gomeira” num documento

Neste dia do ano de 1272 finalmente Afonso III e a Ordem de Santiago chegavam a acordo relativamente à propriedade de terras e bens no Reino do Algarve. Entre as terras que o rei concedeu à Ordem contava-se a “Herdade da Gomeira”.

Original do Tomo 3 da Chancelaria de Afonso III (folio 29 verso). A azul referência a “Gomeira”. A verde é visível “Tavila”, “Caçalla”, “Castrum Marim” e “Abenfabila”, último alcaide mouro de Tavira.

Já referi nos primeiros artigos deste blog que a referência a “Gomeira” vem desde tempos medievais, sendo o topónimo mais antigo da freguesia, e as ligações da mesma com a Ordem de Santiago, porque supostamente a jurisdição destas terras terá sido concedida por Afonso III em documento régio pouco tempo após a conquista cristã de Tavira. O Foral de Afonso III, datado de 1266, cujo texto se reproduz aqui em português actual, é no entanto omisso relativamente ao topónimo. Após algum tempo de pesquisa, consegui finalmente entender que a concessão à Ordem é feita fora do âmbito do foral, e feita no contexto das terras algarvias que Afonso III pretendia que ficassem na sua jurisdição após negociar com a ordem as terras que teriam sido conquistadas pelos espatários como foram Cacela, Ayamonte e  Tavira. Afonso III não tinha direito pleno sobre o Algarve, porque ainda estava sob a suserania do seu sogro Afonso X de Castela e Leão. No entanto, em 1267, com o tratado de Badajoz, Afonso III vai ver finalmente obter do seu sogro o direito de cedência da província mais meridional de Portugal no reino lusitano. Com esta questão da fronteira luso-castelhana definida, Afonso III vai então tratar com os representantes da Ordem de Santiago de resolver os diferendos relativos aos castelos e terras inicialmente detidos pela Ordem após a conquista dos castelos[1] [1].(7)

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As armas da cidade de Tavira

A Paragem Ferroviária do Pinheiro

Encontrei na Wikipédia, uma menção a um “Apeadeiro do Pinheiro“. De acordo com a tabela de preços datada de 1906, aquando da inauguração do troço ferroviário de Tavira a Vila Real, este apeadeiro devia ser ao invés uma “paragem” (que aparece com um “P” a seguir ao nome) ficava entre as estações de Conceição e…

A Paragem Ferroviária do Pinheiro foi publicado originalmente aqui

Encontrei na Wikipédia, uma menção a um “Apeadeiro do Pinheiro“. De acordo com a tabela de preços datada de 1906, aquando da inauguração do troço ferroviário de Tavira a Vila Real, este apeadeiro devia ser ao invés uma “paragem” (que aparece com um “P” a seguir ao nome) ficava entre as estações de Conceição e Santa Rita, junto de uma Quinta com o mesmo nome. Não tenho conhecimento de nenhuma quinta com esse nome na zona rural envolvente da linha do comboio.

Tabela de preços praticada entre as estações da linha do Algarve (1906). É feita a referência a na altura o “apeadeiro” ser apenas uma paragem, a passar ser apeadeiro no futuro.

A estação de Santa Rita fica junto do sitio da Caiana, lugarejo junto da EN125 aonde passa o Ribeiro do Lacem com vendas e cafés. Portanto, este Apeadeiro haveria de ficar entre a estações da Conceição e de Santa Rita. Antigamente a EN125 atravessava a linha de comboio numa passagem de nível, cujas ruínas da casa do guarda ainda se podem ver do viaduto que foi construído nos anos 60. Continuar a ler “A Paragem Ferroviária do Pinheiro”