A evolução da Costa de Tavira à foz do Guadiana do séc. XVIII ao séc. XX .

Já foi tema neste local a influência que a configuração da costa tem no desenvolvimento social e político das populações. O que não foi referido é que esta costa é um palco mutável e dinâmico, que se vai modificando de uma forma perceptível  no espaço de duração de uma vida humana. Alterações bruscas poderão ter lugar como de certeza tiveram como os grandes fenómenos de envergadura sísmica, mas no geral as alterações são graduais. Estamos numa costa que é dominada em grande parte por dois grandes pontos de dinâmica costeira como o são a Ria Formosa e a foz do Guadiana. O input de sedimentos e as correntes dominantes da ondulação costeiras são os dois principais “cozinheiros”. Relativamente a poder fazer a inventariação temporal esta está altamente dependente da perícia dos cartógrafos. E como estes, a precisão. Neste ponto, penso que o talento do engenheiro militar José Sande Vasconcelos permite balizar um antes e depois neste aspecto. O militar não era perfeito e o grau de sofisticação tem que ser lido de acordo com a sua época. Mas no geral, o seu traço permite usar as suas cartas como o princípio da galeria que vamos apresentar de seguida.

É possível ver gradualmente como o cordão dunar foi evoluindo do final do séc. XVIII até 100 anos depois, começando com o mapa 1. Este encontrava-se ligeiramente a leste do forte de S. João, enquanto Cacela estava exposta ao mar aberto. Ao longo de 100 anos, o cordão dunar foi-se prolongando contínuamente até atingir Cacela. Por outro lado, é possível verificar a evolução da Foz do Guadiana, enquanto no mapa de Baptista Lopes vemos um conjunto de vários bancos de areia na foz, vê-se no mapa de Filipe Folque estes bancos já não estão presentes. Interesse é ver no mapa 1 Sande Vasconcelos aponta umas formações arenosas a leste da barra a que chama “Esparchal”. Serão areias que mais tarde serão em quantidade suficiente para ficarem permanentemente fora de água ? De reparar que a configuração desta barra terá sem dúvida afectado a decisão quando a esquadra comandada pelo Duque da Terceira partiu do Porto em Junho de 1833 escolheu desembarcar e atacar a Bateria da Torre, terá sido quase de certeza provocada por ser o ponto mais próximo da então capital do Reino do Algarve que permitia o desembarque em terra firme, para além da embocadura da entrada para o “Rio de Tavira” estar concerteza bem defendida pelo forte de S. João, de forma que o duque da Terceira optou por uma invasão que permitia o desembarque na “rectaguarda” do forte. O forte não foi atacado, pois as forças liberais puseram-se logo em direcção de Tavira, que tomaram sem quase qualquer resistência.

Seria neste cordão dunar que iria ser erigida a armação dos mares da Abóbora, por volta de 1840, com certeza na embocadura do local onde se situaria na altura a barra, sendo o local mais óbvio onde colocar os apetrechos da armação. O mais possível num local a meio termo entre o porto de Tavira e o mar aberto. Nesse local ficariam alojados os “companheiros” (de “companha”) nos meses da faina do atum (de Março a Setembro). Em Cacela foi construída uma fábrica de tijolos que deu o nome à zona conhecida como “Fábrica”. Muito provavelmente foi construída com o intuito de manufacturar material de construção para a construção das referidas habitações da armação. Por outro lado, a sua localização, na Ria, a salvo das investidas do mar, permitiria transportar os tijolos por mar até outros locais.

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