Cartografia Aérea Costeira da Ilha da Abóbora

Estas fotos fazem parte do acervo do Arquivo Histórico da Marinha e contêm vistas da Ilha da Abóbora desde a Barra de Tavira (na época Barra do Cochicho) até à Armação da Abóbora. Foram tiradas por meios aéreos em Fevereiro de 1951.

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Os “Vaz Velho” de Tavira – ascensão e desvanecimento

Há 300 anos, o magnânimo rei João V teve na copa da sua corte um ilustre natural da Conceição. Por essa graça, a sua família ascendeu socialmente em Tavira durante um século. Primeiro capítulo que serve de introdução à família que erigiu o Palacete da Bela Fria.

PARTE I – INTRODUÇÃO

Placa de travessa na Conceição.

Bem, é chegada a altura de me debruçar sobre aquela que é a única família fidalga originária da freguesia da Conceição – os “Vaz Velho”. Tal como Tavira é o berço de duas outras famílias nobres – os “Corte Real” e os “Nobre”[1] – e, aproveitando o momento actual, em que o antigo palacete desta família está a receber obras para transformá-lo em algo que provavelmente será um “hotel de charme”.

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A “Typographia Burocratica”

Há 140 anos, uma tipografia em Tavira notabilizou-se por uma ideia inovadora na altura: publicação dedicada apenas a anúncios classificados. Ideia de um parente de Fernando Pessoa. Foi a então “Typographia Burocratica”.

Antigas instalações da Tipografia na Rua Nova Pequena (2). A tipografia ocupava vários edifícios deste lado da rua (ver imagem seguinte) – do 1 ao 3 e do 7 ao 11 (5 portas) – o que dá para ter uma ideia da dimensões das suas instalações.

A Typographia Burocratica foi criada em Tavira, em 1882 por João Daniel Gil Pessoa (3) (4), primo irmão do pai de Fernando Pessoa, com instalações inicialmente na actual rua Jacques Pessoa nº5 e 7 (5). De lá mudou-se para aquelas que vieram a ser as suas instalações de maior duração, na artéria então conhecida por Rua Nova Pequena. Aí ocupou o espaço de 5 portas – quase todo o lado leste da rua.

O verdadeiro aspecto inovador da tipografia de João Gil Pessoa – para além da impressão de formulários, cadernos e outro material de escrita destinados a escriturários como ele próprio – foi o de criar uma publicação periódica dedicada exclusivamente a publicidade, o que hoje chamaríamos páginas de classificados ou páginas amarelas, mas que eram um conceito inovador para época. Essa publicação assumiu o nome Jornal de Anúncios de Tavira. Depois, através de uma rede de correspondentes, alargou o âmbito das publicações, criando novas versões de um Jornal de Anúncios para várias localidades algarvias (6) [1].

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  • (2) actualmente Rua Alexandre Herculano, ao virar da esquina oeste dos Paços do Concelho, onde se encontra a suposta efígie de Paio Peres Correia
  • (3) Empreendedor tavirense, trabalhou na Comarca de Tavira como escrivão, e para além da tipografia criou a Transportadora Tavirense que permitiu as primeiras carreiras entre Tavira e Lisboa e a moagem/panificadora no antigo Convento das Bernardas
  • (4) as escrituras redigidas por João Pessoa, incluídas no acervo documental do notariado de Tavira, estão guardados no Arquivo distrital de Faro, e cobrem um período de 1877 a 1901
  • (5) a rua marginal esquerda do rio, desde a Ponte Romana até à Ponte Provisória
  • (6) Alcoutim, Vila Real, Olhão, Faro, Loulé, Albufeira, Lagoa, Silves, Monchique, Portimão, Lagos, chegando inclusivamente a editar também para Cuba e Mértola, no Alentejo estavam entre as localidades cada uma com o seu Jornal de Anúncos
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O bébé D. Fernando (continuação)

No artigo anterior relativo ao filho de D.Rodrigo de Noronha
que nasceu em Tavira em 1761 , e o pai que foi o governador do Algarve que operou a mudança da sede do governo do Reino do Algarve de Lagos para Tavira após o terramoto, ficou a pairar a ideia se o filho de D. Rodrigo ao chegar à idade adulta teria ficado a constar nos anais da História Nacional. Graças ao geni.com, mais um dos sites de genealogia e dos poucos que deixam consultar as árvores genealógicos (com permissão dos seus editores) deparei-me com Fernando António Soares de Noronha, nascido em Tavira em 1741, a 30 de Julho. Fui verificar os cadernos disponíveis da paróquia de Santa Maria para os baptismos dessa data nada aparece, e para mais o nome de Rodrigo de Noronha figurava como pai. Na posse da prova da data correcta do nascimento da pessoa, contactei o responsável da árvore, mostrando-lhe a certidão de baptismo, e perante os nomes presentes na certidão, não dava lugar a dúvidas.

Antigo paço dos Noronha e Meneses, demolido para dar origem às actuais instalações da imprensa nacional (foto do blog Lisboa de Antigamente)
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Mapa de Tavira e seu litoral (1951)


Carta Militar do instituto geográfico do Exército de 1951, dez anos após o ciclone de 1941. Situação do Litoral entre Fuzeta e Cabanas na altura. É visível a Barra do Cochicho que abriu em consequência do ciclone. Os quebra-mares da barra artificial aberta em 1930 – e que ainda estão visíveis no mapa – marcam a posição dessa barra entretanto assoreada. 

As armas da cidade de Tavira

As duas versões do ‘Prospecto de Tavira’ (1780 e 1797)

ACTUALIZAÇÃO: Obrigado ao Marco Sousa Santos por me apontar correctamente para qual seria a localização correcta da casa da Bateria do Registo.

São múltiplas as referências dadas a esse personagem do século XVIII que deixou um verdadeiro manancial de cartas militares, ilustrações e desenhos paisagísticos. Estou, claro, a referir-me a José Sande de Vasconcelos, eborense de nascimento, tavirense de adopção. Da cidade que escolheu para sua residência o engenheiro militar deixou uma série de plantas, como a Planta do Castelo de Tavira, a Planta do Interior de Tavira e finalmente O Mapa de Tavira e seus arredores, um verdadeiro tesouro cartográfico com as dimensões de 4,11 m de largura para 1,72 m de altura. Para as dimensões que foi executada, a Carta dos Arredores de Tavira para ser completamente desembrulhada, precisava de uma mesa daquelas que davam para 8 pessoas. O engenheiro esmerou-se realmente na concepção da carta, e além de cartografar indicações e pormenores preciosos a respeito de Tavira no século XVIII, com bastante texto no referido mapa, acrescentou em rodapé quatro ilustrações de campo suas, a que chama prospectos que são, da esquerda para a direita : Prospecto do Lugar da Conceição tirado do ponto a,  Prospecto da Cidade de Tavira tirado do ponto do Regto. b, Prospecto d’Horta do Bispo Q He D’D.Anta. [Antónia] Thereza de Aguiar tirado do ponto e e finalmente Prospecto d’Lugar d’N.Snra. D’Luz . Ao primeiro prospecto , o do lugar da Conceição já fiz referência aqui noutro artigo , o que me interessa agora é falar do Prospecto da Cidade de Tavira, pois conhecem-se duas versões desta ilustração, a primeira, que está inclusa no referido Mapa de Tavira e seus arredores que terá sido concebida em 1780 segundo o que diz a BND e conhece-se uma segunda versão, datada de 1797, e em excelente estado de conservação, da mesma ilustração, pertence ao arquivo da Sociedade de Geografia de Lisboa. Sande de Vasconcelos terá, usando a primeira versão com ponto de partida, acrescentou mais pormenores e ainda enumera o nome dos habitantes em cada uma das casas que se vêm a partir do rio desde o sul da cidade. Estes desenhos foram executados no local onda na altura se situava a Bateria do Registo, usada na defesa da cidade de Tavira a qualquer investida inimiga pelo rio e ao mesmo tempo local de aula prática de artilharia ministrada precisamente pelo brigadeiro-engenheiro.

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Casa da Bateria do Registo, na estrada para as Quatro Águas. Foto do Street View da Google

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Praça da República ao longo dos últimos 150 anos

Esta galeria  mostra como foi a actual Praça da República, centro de Tavira, com os Paços do Concelho e a Ponte Romana, desde 1880, grosso modo, ainda em monarquia liberal (chamava-se praça da Constituição) até aos anos 60-70  do século XX (data da construção da ponte da EN125 que tirou o trânsito do centro da…

Praça da República ao longo dos últimos 150 anos foi publicado originalmente aqui

Esta galeria  mostra como foi a actual Praça da República, centro de Tavira, com os Paços do Concelho e a Ponte Romana, desde 1880, grosso modo, ainda em monarquia liberal (chamava-se praça da Constituição) até aos anos 60-70  do século XX (data da construção da ponte da EN125 que tirou o trânsito do centro da cidade). Tentei dar o que me pareceu ser a ordem cronológica mais intuitiva, sem na posse efectiva de qualquer espécie de datas.

Actualizei a galeria com fotos a cores para ficar com a galeira mais “completa”, chegando até aos dias de hoje, e das alterações que sofreu com o “efeito Macário”.

 

 

Fontes de foram obtidas as fotos:

 

 

Praça da República ao longo dos últimos 150 anos foi publicado originalmente aqui

Henrique Correia da Silva (?1560?-1644)

A personalidade de que vou biografar neste artigo não tem nenhum monumento à altura do desempenho que teve na história de Portugal, e, nomeadamente, do Algarve. A única coisa que encontrei mais parecido com uma homenagem o facto de dar o nome a uma rua em Lagos, e pouco e nada mais. Desde que o…

Henrique Correia da Silva (?1560?-1644) foi publicado originalmente aqui

Henrique Correia da Silva (?1560?-1644) foi publicado originalmente aqui


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A personalidade de que vou biografar neste artigo não tem nenhum monumento à altura do desempenho que teve na história de Portugal, e, nomeadamente, do Algarve. A única coisa que encontrei mais parecido com uma homenagem o facto de dar o nome a uma rua em Lagos, e pouco e nada mais.

Desde que o descobri pela primeira vez nos livros do capitão Anica, enquanto alcaide de Tavira e mais tarde governador do Algarve, e vindo referido noutras fontes, referindo que ele haveria acompanhado o cortejo funerário de um corpo que supostamente seria da malogrado D.Sebastião desde o Algarve até Lisboa, em 1581, logo a seguir à entrada de Filipe II de Castela para o trono português.

O que é curioso a respeito de Henrique Correia da Silva, é que ele esteve presente nos dois momentos em que Portugal perdeu e readquiriu a sua independência, para além de ter estado presente na batalha fatal, Henrique Correia da Silva foi alcaide-mor de Tavira – sucedendo ao pai –  e já perto dos oitenta anos recebeu o cargo de governador geral das Armas do Reino do Algarve, nomeado pelo último Filipe rei de Portugal. E, apesar de prestar vassalagem ao último Filipe, foi ele que acabou por aclamar o duque de Bragança como o primeiro rei de Portugal restaurado na cidade de Lagos.

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O secretário-de-estado “Corte-Real”

Diogo de Mendonça Corte-Real, um tavirense secretário de estado de João V e personagem na série de TV “Madre Paula”.

Tenho acompanhado a par e passo a série a ser exibida na RTP às quartas-feiras Madre Paula, não só por se tratar de uma produção histórica, algo ficcionada baseada no romance homónimo de Patrícia Müeller sobre as aventuras amorosas do rei magnânimo João V no Convento de Odivelas, mas também pela presença do secretário-de-estado chamado apenas de “Corte-Real” durante a história. Acontece que o nome completo deste senhor é Diogo de Mendonça Corte-Real, e nasceu em Tavira a , 17 de junho de 1658 , na então conhecida por Rua da Mó Alta(Chagas, 2004)(1) e descendente de um ramo colateral (os “Mendonça Corte-Real”) do tronco original “Corte-Real” de Tavira do século XV(2).  Na série televisiva, o papel é desempenhado pelo actor Guilherme Filipe .

Este D. Diogo estudou leis em Coimbra e serviu de embaixador na Holanda (então  chamada “República das Províncias Unidas”) a Pedro II, pai de João V.

Portugal e a Holanda, viviam,  desde o início do século XVII, e com a criação da Companhia das Índias Orientais por parte dos holandeses, um estado de guerra quase permanente, conquistando muitas possessões portuguesas e fazendo pirataria ao nosso comércio marítimo. Por virtude de Diogo de Mendonça Corte-Real, os estados gerais da Holanda concederam em pagar uma indemnização de Oitenta mil patacas a Portugal.

Como prémio deste feito, Pedro II considerou movê-lo para embaixador em Espanha e por lá se manteve durante dez anos, até regressar a Portugal por virtude da Guerra de Sucessão Espanhola. Esteve envolvido por parte de Portugal nas negociações do tratado de Utreque, que pôs termos ao conflito e que da parte do Portugal ajudou ao reconhecimento da colónia portuguesa entre os Rios Amazonas e Oiapoque, para além da soberania da colónia do Sacramento, actualmente dentro do Uruguai.

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