PARTE 2 – A DELACÇÃO DOS MONTESINOS CONTRA O “SENHOR DA SERRA”
Foi referido no artigo anterior, que Manuel José Vaz Velho, filho do cozinheiro real de João V, comprou a propriedade da Serra de Tavira aos descendentes do Manuel Godinho de Castelo Branco, antigo capitão-mor e guarda-mor da Saúde em Tavira a quem a Câmara havia cedido a propriedade por razões de financiamento em 1646. Cerca de 112 anos mais tarde, em 1758 temos notícia que o título havia sido adquirido por Manuel José.

Em Setembro desse ano, nas atas de vereação que se conservaram do período 1758-62, temos uma entrada na ata muito pouco vulgar, a seguir às assinaturas habituais do escrivão e vereadores segue-se página e meia de assinaturas em cruz que muito provavelmente pertencerão aos campesinos que vieram apresentar as denúncias contra os vexames perpretados pelo “Senhor da Serra”.

O escrivão, autor do texto e por consequência das “assinaturas em cruz” é o vereador Pedro de Alaraz da Fonseca Pimentel, cavaleiro da Ordem de Cristo e que ocupou diferentes cargos nas instituições da cidade, como juíz-provedor do Hospital do Corpo Santo. Muito trabalho deve ter tido esta figura importante da época na edilidade tavirense, ao dar-se ao trabalho de inquirir e rabiscar o nome “em cruz” de todos os delatores presentes na reunião que ficou gravada para a posteridade nesta ata. Não haja dúvida que o espírito de união da população da serra fez literalmente, correr muita tinta. Fazia muita falta deste espírito de coesão às populações nos tempos de hoje.