No último artigo abordámos os Cataludo, e agora, para continuar esta série, vamos abordar outro apelido específico de Tavira – os Bagarrão – e nestes, a origem não é tão simples, porque neste caso não temos um único antepassado a que possamos, sem sombra de dúvida atribuir um ancestral único, isto porque o apelido não aparece pela primeira vez num casamento mas numa certidão de baptismo em que o pai aparece como sendo o primeiro a usar o apelido, sendo que não usou esse apelido aquando do casamento.
Estamos, neste caso, específico, a falar de Francisco dos Santos Bagarrão, que nasceu a 24 de Novembro de 1875 e foi registado nos 6 de Dezembro seguinte como filho de Augusto Martins Bagarrão e Antónia da Conceição. Acontece que os pais haviam casado a 4 de Novembro de 1871 também em Santa Maria sem qualquer referência ao apelido Bagarrão. Para complicar a questão, tinham concebido um primeiro filho de nome José Tomaz a 9 de Dezembro de 1873 sem haver qualquer menção ao termo Bagarrão. A isto junte-se um terceiro filho, João, nascido às onze horas da noite do dia 15 do mês de Maio de 1887. No assento de baptismo, o pai Augusto também aparece com o apelido Bagarrão, de forma que poderemos considerar este filho a esta família Bagarrão. Assim, digamos que o mais correcto será considerar que Augusto Martins é o genearca dos Bagarrãos , apesar do filho mais velho José Tomaz ter nascido sem o padre referir esse apelido.
Os dois filhos baptizados com o pai citado com o apelido Bagarrão casaram-se o primeiro em Conceição de Tavira, Francisco com Rita em 1899 e João com Mónica dos Prazeres em Santa Maria de Tavira em 1909. Todos eles, sem excepção, são referidos em todos os assentos como marítimos.
Temos então mais um caso dum apelido que terá origem numa alcunha, se bem que este apelido não tem uma origem etimológica muito evidente. Bagarrão virá de Bagarram ou Bagaram, enquanto conjugações no passado do verbo bagar, de criar baga graúda. Sendo referido nos assentos paroquiais que Augusto Martins e os filhos eram marítimos, não parece haver uma ligação evidente com uma actividade agrícola relacionada com esta eventual ligação.
Na realidade, e após uma leitura mais atenta dos documentos, especialmente o de baptismo de Francisco, vê-se que o avô paterno, José Martins, já era Bagarrão, pois o avô foi padrinho e aí o padre colocou o apelido se especificamente. Agora se decidiu durante a vida começar a usá-lo como apelido ou se foi o padre que omitiu no casamento por razões de economia de papel – uma vez que naquela época o papel não era ao preço da chuva como hoje – não há maneira de saber ao certo.