Muita gente não saberá, mas o emérito pioneiro da Arqueologia portuguesa Estácio da Veiga possuía uma casa rural em Cabanas , consoante relata Arnaldo Anica na sua Monografia de Cabanas 1. Rural na época em que ele viveu (1828-1891), porque neste momento tal edifício a existir algum vestígio dele, já foi complemente ocultado debaixo do avanço do betão turístico contemporâneo. As propriedades de Estácio na freguesia da Conceição chegaram-lhe por via de propriedades do avô, o tenente-coronel Sebastião Martins Mestre – um dos líderes da resistência contra as incursões franceses no Algarve – possuía na freguesia.
Sebastião Martins Mestre, avô materno e padrinho de Estácio da Veiga, é uma personagem de muito pouco se sabe a respeito de suas origens, mas novas investigações permitem estabelecer que nasceu em Arenilha (actual Vila Real), algures entre 1762 e 64. Fez parte do regimento de infantaria de Tavira, de onde mais tarde emigrou para Gibraltar onde conheceu a sua esposa, britânica de nascimento, Mary Phillips. As suas ligações com os ingleses permitiram o apoio da Royal Navy no levantamento da resistência algarvia contra a presença francesa no Algarve aquando da 1ª Invasão Francesa (1808). Após a retirada francesa, ficou como governador dos fortes de Cacela e de São João da Barra de Tavira 3, sendo mais tarde presidente da Câmara Municipal de Tavira em 1820 e finalmente Governador Militar de Vila Real de Santo António. Foi na freguesia da Conceição que Sebastião Martins Mestre foi proprietário de um casa rural em Cabanas (naquela altura chamadas -da Conceição) e uma fazenda no sítio conhecido como Arrancada . Esta última situa-se próximo do lugar onde actualmente se situa a actual Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR do Almargem). Não é conhecida a forma de como Sebastião Mestre terá adquirido estes bens, mas será tema para explorar num futuro artigo. Certo é que ambas as propriedades passaram para o seu neto Estácio da Veiga.
O objectivo deste post não é falar da obra do arqueólogo tavirense, sobejamente conhecida, mas das suas relações com a freguesia da Conceição, e as referências que a ela faz.
Da propriedade da Arrancada Anica 1 cita uma carta de Estácio da Veiga datada de 1885, dirigida à autarquia tavirense, na qual o arqueólogo se queixa da sua propriedade estar a ser constantemente atravessada pelo povo em virtude de os antigos caminhos usados pelas gentes da freguesia, situados no Mato da Ordem, sítio situado imediatamente a norte da Arrancada, terem sido vedadas pelos novos proprietários do Mato da Ordem, nomeadamente José Maria Parreira que o havia adquirido aos duques de Palmela, conforme Estácio da Veiga afirma na sua carta. Procurei por esta carta no Arquivo Histórico de Tavira, mas não foi possível encontrá-la. Existe é uma outra carta de Estácio da Veiga dirigida também ao município datada de 1882.
Estácio da Veiga na sua obra Antiguidades Monumentais do Algarve, volume I, 1886, afirma haver encontrado naquela mesma propriedade vários objectos desde a pré-história até às épocas romana e árabe.
O arqueólogo refere que a sua casa rural é o seu sítio predilecto para guardar a sua colecção arqueológica, e faz menções a várias pessoas da freguesia, falando humildemente da sua pessoa em comparação com as mesmas:
e eu, em último logar, por isso que também presumo saber alguma cousa de primeiras letras, e já fui socio da real associação dos architectos e archeologos portuguezes.
No volume 2 da sua obra, Estácio fala dos achados em duas locais diferentes da freguesia, novamente na Arrancada, e mais tarde inclusivamente de uma enxó encontrada no lugar do Cascalhão, sítio a que se chega depois de atravessar a passagem de nível sem guarda, seguindo o caminho rural que dá continuidade à rua do cemitério da Conceição.
Após a sua morte, ocorrida a 6 de Dezembro de 1891, na sua casa de Arroios, Lisboa, algum do material encontrado e recolhida na casa de Cabanas ainda foi adquirido à sua viúva em 1893 4.
Bibliografia
(Anica, 2011)
(Cardoso, 2018)
(Chagas, 2004)
(Cardoso, 2007)
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