O culto da Concepção de Santa Maria

Para se falar da Igreja Paroquial da actual freguesia ou União de Freguesias, será preciso fazer uma breve referência à manifestação mariana da “Nossa Senhora da Conceição”, que de entre todas as interpretações e variantes do culto mariano, foi a que em Portugal ganhou mais apoio junto da nobreza e da realeza, tendo sido erigida…

O culto da Concepção de Santa Maria foi publicado originalmente aqui

Para se falar da Igreja Paroquial da actual freguesia ou União de Freguesias, será preciso fazer uma breve referência à manifestação mariana da “Nossa Senhora da Conceição”, que de entre todas as interpretações e variantes do culto mariano, foi a que em Portugal ganhou mais apoio junto da nobreza e da realeza, tendo sido erigida a Padroeira da Nação no século XVII, poucos anos após a Restauração.

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Imagem da Conceição de Vila Viçosa em procissão

O conceito de Conceição

De realçar que a Conceição tem a ver a concepção de Santa Maria, mãe de Jesus, como entidade divina livre do pecado original, ou seja, está relacionada com o suposto nascimento de Santa Maria, não tendo qualquer ligação como poderia ser interpretada, com a data do Natal, que se assinala dali a duas semanas. Não se trata da anunciação ou visitação do Anjo que anunciou a Maria que seria Mãe de Jesus. É, isso sim, o nascimento de Maria enquanto filha de Santa Ana, podendo ser visto como a data de aniversário de Maria.

Esta data portanto assinala o nascimento da Virgem como a mãe do Senhor, tendo a sua concepção, à semelhança do próprio Jesus, sido entendida como pessoa livre de pecado. Relativamente se, à semelhança de Jesus, não teve pai terreno, nada é dito.

Nas artes, a imagem da Conceição normalmente adoptada é de uma senhora coroada, com ou sem o menino, coroada de estrelas, de acordo com a visão de São João Evangelista relatada no Apocalipse, capítulo 12, versículo 1:

E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.

É esta representação da mulher vestida de sol que é seguida por vários pintores e a história de como ela é ameaçada pela criatura, por exemplo Rubens:

Em muitas representações, mesmo em escultura, este versículo e os que se seguem sobre o dragão vermelho é interpretado como o triunfo de Maria sobre a tentação e o pecado.

O culto em Portugal

É por demais conhecida a ligação a Santa Maria com a fundação da nacionalidade, nomeadamente na visão de Afonso Henriques antes da Batalha e de Ourique e a sua devoção à mãe de Jesus.

Mas concretamente para o caso da Conceição de Maria, o seu culto e o próprio conceito do mesmo têm origens bem antigos, providas da primeira fase da Idade Média, nomeadamente no ano de 656, no X Concílio de Toledo, então  capital da Espanha Visigótica, tendo fixado o dia 8 de Dezembro para a sua celebração. Era também usada a data de 8 de Setembro, que correspondia à data de nove meses antes da Natividade. De qualquer forma, o papa Sisto IV em 1476 resolveu a questão escolhendo o dia 8 de Dezembro especificamente para a data da Concepção de Maria. Mais tarde, o conceito da Imaculada Concepção de Maria ganhou a figura de dogma pelo papa Pio IX em 1854, inscrevendo a imaculada concepção de Maria isenta de pecado como facto necessário para a própria concepção posterior de Jesus pela intervenção do Espírito Santo.

A imaculada concepção de Maria terá chegado a Portugal como culto logo nos princípios da Nacionalidade, sendo comemorada já no século XIII no Mosteiro do Pombeiro, em Felgueiras. Mais tarde, Isabel de Aragão, esposa de D. Dinis mandou dedicar uma capela no Convento da Trindade mandado edificar por esta rainha à Conceição. Em 1320 ela terá dado instruções ao Bispo D. Raimundo para estabelecer a data de 8 de Dezembro para a celebração, que num documento do próprio D. Raimundo, expressa essa vontade.

A “oficialização” ou ampla divulgação do culto em Portugal dá-se apenas no início do século XV, com Nuno Álvares Pereira, que entretanto havia abraçado  a vida monástica sob o nome de Frei Nuno de Santa Maria. Ao ser-lhe dado a titularidade das terras de Vila Viçosa, aí mandou erguer a primeira igreja dedicada especificamente à Imaculada Conceição, mandando vir de Inglaterra a imagem da Santa que ficou a habitar no Santuário. Pelo casamento da única filha do santo condestável com o filho mais velho do rei e mestre de Avis D. Afonso, a titularidade do senhorio passa ao genro este, passando doravante, quando este recebe o 1º título de duque de Bragança, a ficar como santa padroeira da dita casa ducal, a própria localidade de vila Viçosa. Mais tarde quando os Bragança sobem ao trono via a Restauração de 1640  decidem entronizar a Santa via sua coroação formal e aclamação em corte em 1646. Doravante, aquando da coroação de um novo rei, seria uma imagem de Conceição a ser coroada ao invés do novo rei.

No século XV é erguido em Beja um convento dedicado a Conceição pelo infante D. Fernando, Duque de Beja e Viseu e irmão de Afonso V, o mesmo local onde ficou a repousar o seu túmulo.

 

 

BIBLIOGRAFIA:

Aguiã, Simão Pedro de – A Imaculada Conceição (Editora Civilização, Porto, 1996)

 

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