Uma costa que não sabe ficar quieta!

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Animação ilustrando 32 anos de movimentos costeiros das barras da Ria Formosa, de 1984 a 2016 (fonte: Google Earth Engine)

Do Ancão a Manta Rota, por essa costa fora, um areal praticamente contínuo estende-se como uma corda frouxa em arco perfeito protegendo zonas de sapal, canais de navegação e acessos a portos e docas de recreio. Estamos na Ria Formosa, alvo de protecção especial de acordo com os valores naturais que ostenta. Nas esta corda de areia não é perfeita, na realidade, ela é interrompida em seis pontos, originando um total de sete segmentos. Quatro destes pontos não ficam no mesmo lugar e movem-se para leste, os outros dois são fixos. Este complexo sistema dunar tem milénios de existência, terá começado após o fim da Última Glaciação há 15 mil anos e terá conhecido diferentes encarnações, sendo que os mais antigos foram sendo incorporados em terra firme, provocando o recuo do mar em contraposição ao avanço da costa.

As movimentações destes pontos que individualizam os segmentos ao longo de séculos tiveram consequências para o desenvolvimento das áreas urbanas no que toca às suas suas comunicações com o mar. Também determinaram a construção dos sistemas defensivos, de que são testemunho os fortes militares deixando pelo passar do tempo e outras construções, como os moinhos de maré ou as salinas.

O dinamismo do cordão dunar da Ria Formosa é de tal forma complexo que existe uma multiplicidade de estudos relativos relativamente à maneira de manter os ritmos naturais em harmonia com as necessidades, especialmente no que toca à necessidade manter a estabilidade dunar das ilhas barreiras e das comunicações para o mar relativas às actividades portuárias que têm lugar em diferentes locais neste sistema lagunar, sendo de destacar Tavira, Olhão e Faro e em menor escala Fuzeta, Santa Luzia, Cabanas e Cacela.

Em baixo um pormenor do vídeo que mostra a deslocação da Barra chamada do “Lacém” durante um período de 32 anos, de 1984 a 2016.

BIBLIOGRAFIA:

A origem do topónimo "Gomeira".

Topónimos são nomes que usamos para nos referirmos coloquialmente a lugares geográficos ou populacionais  sem sabermos realmente da sua origem, cuja memória se perde desde tempos imemoriais.

Gomeira é porventura o topónimo mais antigo em toda a freguesia da Conceição. Ele persiste no nome de uma fazenda privada e na urbanização da “Quinta da Gomeira”, para além de figurar também na pesquisa de base de dados de códigos postais dos CTT, entre outros.

O “Google Maps” também aponta para um lugar com essa denominação e não parecem existir muitos mais lugares em Portugal com o mesmo nome. De acordo com o Dicionário luso-brasileiro “Gomeira” é um nome colectivo que pode ser usado de modo genérico para indicar árvores de frutos mas também para designar prados de plantas que libertam gomas, nomeadamente resinas. Estaria a designar uma mata de pinheiros bravos que é uma árvore resinosa ? Mas o facto de o termo ter sido usado pela primeira vez por Afonso III no seu foral de Tavira pouco tempo após a conquista da cidade do Séqua sugere que o termo já existia no século XIII, ou pelo menos terá sido criado nesse tempo. Como no mesmo foral o referido rei entrega toda a administração daquelas terras à ordem guerreira dos monges de Santiago d’Espada, tal parece sugerir que é essa a origem do outro topónimo “Mato do Ordem” daí em doravante igualmente usado com frequência na documentação histórica. Talvez a finalidade destas terras situadas entre os termos de Tavira e Cacela ganharam este nome em virtude de as matas serem generosas gomeiras, se de pinheiros bravos ou de outras resinosas, já Quinta da Gomeira Google Mapsnão há maneira de averiguar.
Actualmente o termo subsiste para referir apenas os terrenos existentes entre a N125 e a linha de Comboio para norte do lugar da Canada e a oeste da Conceição. Canada é igualmente outro topónimo bem antigo, e a origem por sua vez  terá a ver com o canavial que acompanha a ribeira da Conceição (chamada por alguns de Benamur) até à sua foz na ria. Ele no passado foi usado para delimitar propriedades, para além de ter sido dele a origem da primeira estrada de Conceição a Cabanas.
Regressando à questão do termo “Gomeira”, devido à sua antiguidade, a sua origem poderá ser árabe, visto ser referido logo a seguir à conquista de Tavira aos mouros.

Bibliografia:

  • Anica, Arnaldo Casimiro – Monografia da Freguesia da Conceição de Tavira, 2008

  • Anica, Arnaldo Casimiro – Tavira e o seu termo.

  • Chagas, Ofir – Tavira, Memórias de uma cidade.