O clero português no século XVIII (para além das finanças régias) precisava de ter uma ideia de quais seriam os seus rendimentos a nível nacional, fruto das concessões e foros atribuídos às ordens militares ou às dioceses (para não dizer “bispos”) pelos forais ao longo dos séculos. Em 1767, o presbítero Luís Cardoso, que já tinha publicado em 1747 o Dicionário Geográfico ou Notícia Histórica de todas as cidades, vilas, lugares e aldeias, rios, ribeiras e serras dos reinos de Portugal e Algarve decide fazer um catálogo em três volumes de todas as paróquias, nomes de elementos do clero. Uma espécie de “lista telefónica” daquele tempo onde inclusive lista o nome das cidades que recebem correio em nome das paróquias rurais a cujo “termo” pertencem. A esta obra chamou Luís Cardoso o nome de “Portugal Sacro – Profano : Ou Catalogo Alfabetico de todas as Freguezias dos Reinos de Portugal, e Algarve … juntamente com as leguas de distincia da Metropoli Do Reino, E da Cidade principal, e cabeça do Bispado, com o numero dos fogos : Noticia das terras do Reino, que tem Correio, e as que o não tem, de que Correios se servem“. Ora o termo de “Nossa Senhora da Conceição” aparece duas vezes, uma no volume 3 na lista das paróquias que não tem lugar para entregar correio e volta a aparecer no volume 2, numa entrada em conjunto com a outra paróquia também de nome Conceição no Algarve, mas situada em Faro.
Neste caso ele não refere os termos a que cada uma delas pertence, só chegamos lá pela distância. Ora diz Luís Cardoso que a freguesia da Conceição (que deve ser a de Tavira) dista dezanove légoas do capital do bispado (Faro). Sabendo que a distância a percorrer de Conceição-Tavira a Faro (actualmente pela EN125) são trinta e quatro quilómetros (nota: sempre aprendi que uma légua são cinco quilómetros) Mas neste caso, o valor deveria ser bem inferior a cinco, ora 34/19 é inferior a dois quilómetros (1,74 km), tornando a légua mais perto do valor actual da milha (1,69 km).
Diz Luís Cardoso que a dita paróquia rende trezentos alqueires de trigo, e tem duzentos e quarenta e dois vizinhos. Nada mau, para uma paróquia que incluía uma vasta área serrana e que pelos vistos o terramoto ocorrido pouco mais de dez anos antes não haveria afectado tanto.
A obra de Luís Cardoso não deixa de ser interessante como censo da população de cada freguesia naquela época, após o terramoto para além de dar informação agrícola quando refere os rendimentos em forma de géneros alimentícios.
Cerca de vinte anos antes, ainda em reinado de João V, já Luís Cardoso havia dado à estampa os dois primeiros volumes da sua obra supracitada Dicionario Geografico, na qual refere o seguinte a respeito da Conceição, fazedo menção à freguesia como serra :
Serra no Reyno, e Bispado do Algarve, Comarca da Cidade de Tavira, confina com as Serras de Cacela, e [O]Deleite; tem huma legoa de cumprido : he de bom temperamento, e cultivada em muitas partes, nas quaes produz trigo, cevada, centeyo, e favas : pelo mais alto da Serra nasce uma espécie de carrasco, que cria excelente, que cria grãa [bolota?], com que os naturaes fazem bom negocio, por ser muito buscada; tem criaçaõ de cabras, ovelhas, boys; e bastante caça de perdizes, lebres, coelhos, rapozas e lobos.
Não sei de que espécie vegetal será este carrasco, mas se será o Carrasco-comum (Quercus coccifera) que é uma espécie de carvalho-anão, arbustivo, e que se desenvolve no matagal das áreas de barrocal (eg serra de MonteFigo, já referido na publicação anterior).
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