O Sr. Marcelino

Ao estar a consultar os registos paroquiais da freguesia do fim do século XIX, para poder cruzar com os registos dos soldados da freguesia que foram combater na Flandres em 1917 deparei-me com o registo de baptismo de um senhor que em Cabanas ficou célebre. Trata-se do senhor Marcelino, nascido a 30 de Maio de 1897, que cheguei ao conhecer bem na infância. Já a minha avó, que tinha nascido em 1926 o conhecera e faleceu ainda antes dele em 1998, era adulto feito. Dizia ela que ele tinha 90 anos já na altura (na década de 80) e passeava-se de bicicleta por Cabanas sem contar o peso da idade. Pois bem, como podem bem ver pelo averbamento feito no Arquivo Distrital de Faro (!) o sr. Marcelino viveu até 2003, falecendo com 106 anos de idade e ainda me lembro de ver a reportagem dele na TVI acho que em 1998, já tinha ultrapassado a barreira dos 100 anos e passar a ter direito a usar uma idade com marca de três dígitos. O que me recordo dessa reportagem dizer que ainda que ainda subia ao telhado reparar as telhas da casa. Ele vivia na Rua José Correia do Nascimento, onde fica o restaurante da Grelha. Deve ter sido um caso num milhão, ou em dez milhões, o do sr. Marcelino, ter tido o privilégio de ter vivido em tres séculos diferentes.

Certidão de baptismo do sr. Marcelino José, a 30 de Maio de 1897, na Igreja da Conceição

Uma união de freguesias mas a Santa já não vem a Cabanas

Venho por esta via manifestar a minha estranheza para com o facto de mais uma vez este ano não se ter efectuado o trajecto da tradicional procissão no dia 8 de Dezembro, feriado devotado à padroeira nacional, Nossa Senhora da Conceição, com a procissão desde o local de repouso da imagem, na Igreja Paroquial até à vila de Cabanas. Há registos de que a procissão incluía a descida até à marginal de Cabanas, e se fazia todos os anos desde tempos imemoriais… mas isso terminou. E terminou desde o ano passado. Mas no ano passado ainda encetaram uma “visita” nocturna pouco anunciada uns poucos dias antes do dia feriado em Cabanas.

Traseiras do Igreja. Possível localização do primitivo cemitério.


Mas este ano nem isso sucedeu, viu-se uma procissão muito lânguida, mais curta que o habitual, sem a saída de outros imagens de santos como o São Luís e o São Sebastião, como era costume.
Diz o diz que disse que a Santa da Conceição se zangou com os cabanenses e é ciumenta, por eles terem decidido devotar-se a uma nova virgem, Nossa Senhora do Mar, cujas “Festas dos Pescadores” se realizam em Agosto. E por isso a Padroeira Nacional prefere dar a cara apenas aos seus devotos que moram no lugar outrora conhecido  por “Sítio da Igreja”.

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Estácio da Veiga e a sua casa rural das Cabanas da Conceição

Morreu há 127 anos na sua casa de Arroios em Lisboa o pioneiro da arqueologia portuguesa, Estácio da Veiga. Na data da sua morte vamos relembrar a casa rural que Estácio herdou do seu avô e as relações que manteve com a freguesia, onde não deixou de fazer também descobertas…

Muita gente não saberá, mas o emérito pioneiro da Arqueologia portuguesa Estácio da Veiga possuía uma casa rural em Cabanas , consoante relata Arnaldo Anica na sua Monografia de Cabanas 1. Rural na época em que ele viveu (1828-1891), porque neste momento tal edifício a existir algum vestígio dele, já foi complemente ocultado debaixo do avanço do betão turístico contemporâneo. As propriedades de Estácio na freguesia da Conceição chegaram-lhe por via de propriedades do avô, o tenente-coronel Sebastião Martins Mestre – um dos líderes da resistência contra as incursões franceses no Algarve –  possuía na freguesia.

Estácio da Veiga na época do seu casamento com Amélia de Claranges Lucotte. Reprodução fotográfica emoldurada na metade esquerda de um porta-retratos de casal, correspondendo a outra metade à de sua mulher. Do arquivo da família, ver 2. Foto reproduzida do site do CIIPC.

Sebastião Martins Mestre, avô materno e padrinho de Estácio da Veiga, é uma personagem de  muito pouco se sabe a respeito de suas origens, mas novas investigações permitem estabelecer que nasceu em Arenilha (actual Vila Real), algures entre 1762 e 64. Fez parte do regimento de infantaria de Tavira, de onde mais tarde emigrou para Gibraltar onde conheceu a sua esposa, britânica de nascimento, Mary Phillips. As suas ligações com os ingleses permitiram o apoio da Royal Navy no levantamento da resistência algarvia contra a presença francesa no Algarve aquando da 1ª Invasão Francesa (1808). Após a retirada francesa, ficou como governador dos fortes de Cacela e de São João da Barra de Tavira 3, sendo mais tarde presidente da Câmara Municipal de Tavira em 1820 e finalmente Governador Militar de Vila Real de Santo António.  Foi na freguesia da Conceição que Sebastião Martins Mestre foi proprietário de um casa rural em Cabanas (naquela altura chamadas -da Conceição) e uma fazenda no sítio conhecido como Arrancada .  Esta última situa-se próximo do lugar onde actualmente se situa a actual Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR do Almargem). Não é conhecida a forma de como Sebastião Mestre terá adquirido estes bens, mas será tema para explorar num futuro artigo.  Certo é que ambas as propriedades passaram para o seu neto Estácio da Veiga. 

O objectivo deste post não é falar da obra do arqueólogo tavirense, sobejamente conhecida, mas das suas relações com a freguesia da Conceição, e as referências que a ela faz. 

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1.

(Anica, 2011)

ANICA, Arnaldo Casimiro - Monografia da freguesia de Cabanas de Tavira. Cabanas de Tavira : Junta de Freguesia de Cabanas de Tavira, 2011
2.

(Cardoso, 2018)

CARDOSO, João Luís (Universidade Aberta) - Nos 190 anos do Nascimento de Sebastião Philippes Martins Estácio da Veiga (1828-1891). Oeiras : Centro de Estudos Arqueológicas de Oeiras, 2018 [Consult. 2 dez. 2018].
3.

(Chagas, 2004)

CHAGAS, Ofir Renato - Tavira, Memórias de uma cidade. author ed. Tavira : [s.n.]