A Typographia Burocratica foi criada em Tavira, em 1882 por João Daniel Gil Pessoa 2 3 , primo irmão do pai de Fernando Pessoa, com instalações inicialmente na actual rua Jacques Pessoa nº5 e 7 4. De lá mudou-se para aquelas que vieram a ser as suas instalações de maior duração, na artéria então conhecida por Rua Nova Pequena. Aí ocupou o espaço de 5 portas – quase todo o lado leste da rua.
O verdadeiro aspecto inovador da tipografia de João Gil Pessoa – para além da impressão de formulários, cadernos e outro material de escrita destinados a escriturários como ele próprio – foi o de criar uma publicação periódica dedicada exclusivamente a publicidade, o que hoje chamaríamos páginas de classificados ou páginas amarelas, mas que eram um conceito inovador para época. Essa publicação assumiu o nome Jornal de Anúncios de Tavira. Depois, através de uma rede de correspondentes, alargou o âmbito das publicações, criando novas versões de um Jornal de Anúncios para várias localidades algarvias 5 6.
O facto de ter escolhido para mestre tipógrafo Jaime Quirino Chaves foi também um factor de importância. Oriundo de uma família de redactores e homens das letras, Quirino Chaves já era reconhecido na província pela experiência acumulada noutras tipografias na região desde 1870, tendo passado por Lagos, Portimão e Faro 6.
Para além disso, foi nesta tipografia que foram impressas as primeiras obras de Ataíde de Oliveira, para além do primeiro estudo histórico relativo à guerrilha do Remexido (ver tabela no fim do post).
João Gil Pessoa faleceu em 1902 e Quirino Chaves abandonaria a chefia da tipografia nesta altura, sendo então a companhia vendida a José Maria dos Santos, proprietário da Tabacaria Tavirense, que levou a tipografia noutra direcção, ao iniciar a publicação do jornal regional Heraldo, no lugar do antigo Jornal de Anúncios. Nessa nova vertente colaboraram dois filhos, António Crisóstomo (este o principal dinamizador da nova publicação) e José Maria Júnior.
Seria no Heraldo que publicariam, entre outros, o escritor portimonense Manuel Teixeira Gomes, o escritor lacobriguense Júlio Dantas, o poeta sambrazense Bernardo dos Passos e o intelectual farense Carlos Lyster Franco 8 e Jacques Pessoa, agrónomo e militante republicano tavirense.
José Maria dos Santos manteve a Tipografia na sua posse até 1912, quando a vendeu a Carlos Lyster Franco 9, que a reinstalou em Faro, na Rua Primeiro de Dezembro nºs 21,23 e 27, com um novo nome, a Tipografia Democrática, que manteu no entanto a publicação do Heraldo, e assumiu a sua direcção, mas com um propósito mais propagandístico e artístico 6. No Heraldo colaboraram, o próprio Lyster Franco e Carlos Porfírio , e que deram à estampa vários artigos conotados com o movimento modernista português 10.
Os filhos de José Maria dos Santos10, mantiveram no entanto a ligação com o mundo da imprensa tendo António Crisóstomo fundado o Correio do Sul 11 e José Maria jr. ficou com a Tabacaria e Livraria Tavirense, instaladas no rés-de-chão dos Paços do Concelho e no nº1 da Rua Nova Pequena, e que era ponto de encontro dos círculos intelectuais da cidade. Mais tarde, o seu sobrinho António Rodrigues dos Santos assumiria a Livraria, mantendo-se aberta até 201512, sendo hoje uma pastelaria.
Durante a elaboração deste post tive a felicidade de encontrar o artigo de Patrícia de Jesus Palma 6, publicado nos Anais do Município de Faro de 2018, e sem o qual o post actual não teria sido possível.
ALGUMAS OBRAS IMPRESSAS NA TIPOGRAFIA
NOTAS E REFERÊNCIAS
(Palma, 2018)
(Chagas, 2004)
(Afonso, 2008)
(Vilhena Mesquita, 1984)