O figueiral e a vinha dos netos do Corsário do Almargem
A Monumenta Henricina é uma obra arquivística que consiste numa compilação de documentos arquivados, a maioria na Torre do Tombo, relativos à época dos Descobrimentos, e mesmo antes desta, ainda em período medieval, no que se poderia chamar de período pré-expansão portuguesa. Foi compilado nos anos 60 pela Universidade de Coimbra . Todos os seus catorze volumes estão disponíveis online tanto no Google Books como no archive.org . Já aqui referi alguns documentos relativos à família Franca que se estabeleceu em Tavira por volta de fins do século XIII, começando por Lançarote da Franca que teria acompanhado Manuel Pessanha na sua vinda para Portugal e, dizem alguns é o Lanzarote Malocello que figura nos anais da História que redescobriu as Canárias para os europeus. Este Lançarote seria genovês, tal como o primeiro almirante da Marinha Portuguesa, e dedicar-se-ia tanto à defesa das costas portuguesas como ao corso. As duas coisas naqueles tempos não estavam separadas.
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Os topónimos mais antigos da freguesia: Almargem
Já foi feita referência ao topónimo mais antigo da freguesia histórica da Conceição: Gomeira, mas existem outros topónimos igualmente antigos na freguesia, e um deles é o Almargem, que dá o nome à ribeira do mesmo nome que separa a freguesia da Conceição da freguesia histórica de Santa Maria e que surge em mapas muito antigos, pelo menos desde o século XVI. A ideia do presente texto é dar uma ideia de todas as menções existentes em mapas e documentação referente a este topónimo.
No que toca à etimologia do topónimo Almargem, é escusado dizer que não pode deixar de ter origem árabe por causa da sílaba inicial al- . De acordo com o Dicionário de Arabismos na Língua Portuguesa 1 vem de al-marj que significa “prado”,”pastagem” ou “terreno plano”. É possível que na passado almargem fosse usado como palavra na língua quotidiana do dia-a-dia, com os significados enumerados antes. Ora o baixo Almargem, corre num vale que consiste numa grande várzea ladeando as margens da ribeira antes da sua foz. Na verdade, a várzea é um banco de aluvião, composta por sedimentos largados pela ribeira em momentos específicos de inundações em que o curso de água suplanta as suas margens habituais.
Tenho portanto andado muito curioso em investigar a origem do topónimo “Almargem” que, para além de se referir ao vale definido pela Ribeira do mesmo nome e o segundo maior curso de água do concelho de Tavira, define a fronteira entre a freguesia de Tavira e a de Conceição, sendo este traçado bem antigo e que advirá da altura da fundação da freguesia no século XVI. Arriscar-me-ia a dizer que será o traçado de fronteiras mais antigo do concelho de Tavira (a seguir à fronteira das freguesias urbanas de Santa Maria e Santiago, que vem do tempo da conquista cristã – agora unidas depois de 750 anos). A Ribeira do Almargem também é o maior curso de água com caudal que encontramos para quem depois de cruzar o Guadiana entra em Portugal. A Ribeira de Cacela e outros pequenos cursos de água (Álamo, Lacém, Junco, Canada… ) não chegam a ser ribeiros com grande leito…. incapazes o suficiente de impedir uma força de cavalaria de o cruzar (ou “saltar”). A Ribeira do Almargem desagua na Ria Formosa e nos quilómetros finais o seu vale alarga de tal modo que podemos estar perante o que seria no passado um largo estuário que entraria bastante por terra adentro (sendo possível que tivesse existido um estuário comum Gilão/Almargem, onde os dois cursos de água desembocariam). Esse possível cenário em tempos primevos foi discutido numa exposição do Museu de Tavira há vários anos (ver Tavira e os Patrimónios do Mar)2.
Entre Balsa/Tavira e os povoados mais antigos de maior importância (Castillah/Cacela e Baesuris/Castro Marim) haveria de existir uma via de comunicação terrestre porventura desde o tempo dos romanos e existe uma ponte antiga muito para jusante no vale (a cerca de dois a três quilómetros da foz). Esta ponte velha está classificada como imóvel de interesse público e ainda actualmente está ao “serviço”, com algumas limitações óbvias (proibição de cargas superiores a 15 t na ponte).
Agora no que toca a referências a esta ponte e ao topónimo no acervo histórico, diria que é até interessante. Passemos a referi-las nos parágrafos seguintes.
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(v.a. (Museu de Tavira), 2008)
As armas da cidade de Tavira
A Baixa Ribeirinha de Tavira (1880)
Esta é a outra foto menos conhecida onde figura a Torre do Mar antes do seu desmantelamento em 1888. São bem visíveis a Principal, encostada junto à Torre, parte dos edifícios que “assomam” para a Praça da Ribeira e que ainda lá estão. São visíveis o palácio da Galeria e a Igreja de Santa Maria e o castelo dominando a paisagem, tal como há 100 anos. Esta foto é o único testemunho visual existente do antigo palacete dos Mendonça Corte Real, que, tal como o Palacete dos Marques Freire – o único ainda hoje existente na margem direita – que teria paredes meias com o rio. No palacete dos Corte Real se teria albergado o rei D. Sebastião durante a sua visita a Tavira.
Vê-se o que parece ser uma rampa de areia ou pequeno cais improvisado por onde os pescadores descarregariam. Nesta imagem e na anterior do “Prospecto de Tavira” de Sande de Vasconcelos é visível que as embarcações de pesca de menor calado subiam o rio para descarregar o peixe. Nesta foto não é visível a ponte, mas consegue-se ver que as margens do rio não estavam consolidadas como hoje em dia, sob uma estrutura de pedra empilhada e talhada. Em parte, a requalificação do baixa ribeirinha feita por José Pires Padinha, o autarca por detrás da requalificação, ao elevar as margens do rio com blocos de pedra talhada sobrepostas, contemplaria uma parte de salvaguarda contra as enchentes das enxurradas invernais do rio e das marés vivas. Portanto naquele tempo, haveria uma verdadeira “praia fluvial” na margem direita do Gilão, local onde os barcos que subiam o Rio embarcavam e desembarcavam.
A nova baixa ribeirinha encetada por Padinha dotaria os tavirenses de uma maior segurança relativamente às subidas do nível de água do Gilão, e ao mesmo tempo ofereceu um espaço lúdico e de comércio (o novo “Mercado da Ribeira”) para a população junto do seu meio natural de subsistência e convivência – o Rio .
Por outro lado, mostrava que a cidade de Tavira tinha uma classe social em ascenção que finalmente tinha acesso aos proveitos das explorações das armações de atum. Aquilo que antes era um exclusivo quase dos monarcas – os lucros das armações do atum – foram liberalizados com a criação com a Companhia de Pescarias do Algarve ainda no tempo do Marquês do Pombal. Mais tarde, outras companhias de pesca do atum, de iniciativa totalmente privada e exploradas por burgueses locais apareceram – como a Balsense. Um grupo de tavirenses burgueses (fora a nobreza rural tradicionalista) saltou para o palco da liderança da autarquia e racionalizou a cidade, dotando-a de um equipamento que ainda hoje se conserva, com algumas alterações posteriores – mas no essencial a baixa ribeirinha tavirense oitocentista mantêm-se, com os seus gradeamentos de ferro nas margens altas do rio.
O Brasão do Algarve
Já alguma boa gente deve ter notado que quase todas os municípios algarvios usam uma cabeça de um rei mouro e uma cabeça de rei cristão no brasão de armas da cidade ou vila: as únicas excepções são Olhão (que já usou no passado), Faro e Lagos. A razão de apareceram esses rostos tem a ver com razões culturais e históricas, mas também pelo facto do brasão do Reino do Algarve ter sido a principal força motriz por detrás da revisão dos escudos a partir de 1927. A história começou pelo município de Silves, que não se revia em usar um “escudo de prata” sem nada no seu interior (“armas lisas”, no dizer da Heráldica). Após consulta à Associação Portuguesa de Arqueólogos, o historiador Afonso de Ornelas submeteu a sua proposta para o novo desenho das armas da cidade de Silves, claramente inspirado no histórico brasão do Reino do Algarve. Este escudo, que não foi concebido em Portugal, por portugueses, foi provavelmente originalmente concebido pelo artista germânico Albrecht Durer em colaboração com outros para um trabalho comissionado pelo sacro imperador romano Maximiliano I chamado “Arco Triunfal” que consistia num imenso mosaico de xilogravuras ostentando “em todo o seu esplendor” o poder imperial do sacro imperador.
Querem saber, consultem o artigo sobre o brasão do reino do Algarve na Wikipedia, está lá tudo explicadinho !
As Armas de Tavira no “Thesouro da Nobreza”
O Thesouro da Nobreza da autoria do artista Francisco Coelho, Rei das Armas da Índia é uma obra notável. Ilustrado à mão, é uma verdadeira compilação de todos os brasões de reinos, províncias, cidades, condados, ducados, famílias, etc.
Data de 1675 e possui entre outros, as armas do Reino do Algarve já muito próximo da sua versão moderna assim como as armas de Tavira, que se é verdade figuram no Foral de D. Manuel um século antes, não deixam de aparecer aqui em posição de destaque, sendo o terceiro brasão do fólio 10, a seguir às armas do Reyno do Algarves e de São Bruno (letra G).
A obra completa está disponível online no digitarq da Torre do Tombo.
As duas versões do ‘Prospecto de Tavira’ (1780 e 1797)
ACTUALIZAÇÃO: Obrigado ao Marco Sousa Santos por me apontar correctamente para qual seria a localização correcta da casa da Bateria do Registo.
São múltiplas as referências dadas a esse personagem do século XVIII que deixou um verdadeiro manancial de cartas militares, ilustrações e desenhos paisagísticos. Estou, claro, a referir-me a José Sande de Vasconcelos, eborense de nascimento, tavirense de adopção. Da cidade que escolheu para sua residência o engenheiro militar deixou uma série de plantas, como a Planta do Castelo de Tavira, a Planta do Interior de Tavira e finalmente O Mapa de Tavira e seus arredores, um verdadeiro tesouro cartográfico com as dimensões de 4,11 m de largura para 1,72 m de altura. Para as dimensões que foi executada, a Carta dos Arredores de Tavira para ser completamente desembrulhada, precisava de uma mesa daquelas que davam para 8 pessoas. O engenheiro esmerou-se realmente na concepção da carta, e além de cartografar indicações e pormenores preciosos a respeito de Tavira no século XVIII, com bastante texto no referido mapa, acrescentou em rodapé quatro ilustrações de campo suas, a que chama prospectos que são, da esquerda para a direita : Prospecto do Lugar da Conceição tirado do ponto a, Prospecto da Cidade de Tavira tirado do ponto do Regto. b, Prospecto d’Horta do Bispo Q He D’D.Anta. [Antónia] Thereza de Aguiar tirado do ponto e e finalmente Prospecto d’Lugar d’N.Snra. D’Luz . Ao primeiro prospecto , o do lugar da Conceição já fiz referência aqui noutro artigo , o que me interessa agora é falar do Prospecto da Cidade de Tavira, pois conhecem-se duas versões desta ilustração, a primeira, que está inclusa no referido Mapa de Tavira e seus arredores que terá sido concebida em 1780 segundo o que diz a BND e conhece-se uma segunda versão, datada de 1797, e em excelente estado de conservação, da mesma ilustração, pertence ao arquivo da Sociedade de Geografia de Lisboa. Sande de Vasconcelos terá, usando a primeira versão com ponto de partida, acrescentou mais pormenores e ainda enumera o nome dos habitantes em cada uma das casas que se vêm a partir do rio desde o sul da cidade. Estes desenhos foram executados no local onda na altura se situava a Bateria do Registo, usada na defesa da cidade de Tavira a qualquer investida inimiga pelo rio e ao mesmo tempo local de aula prática de artilharia ministrada precisamente pelo brigadeiro-engenheiro.
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Retratos de Tavira através dos séculos
La Place de La Republique à Tavira
C’est une video fait sur une presentation que j’ai fait pour un cours de français. Il parle sur la Place de la Republique et sa historie. É um vídeo de uma apresentação que fiz para um curso de francês. Fala sobre a Praça da República e da sua história, debruçando-se sobre a sua história, para…
C’est une video fait sur une presentation que j’ai fait pour un cours de français. Il parle sur la Place de la Republique et sa historie.
É um vídeo de uma apresentação que fiz para um curso de francês. Fala sobre a Praça da República e da sua história, debruçando-se sobre a sua história, para além de pontos de interesse turístico desta praça que constitui o centro da cidade.
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