A Paragem Ferroviária do Pinheiro

Encontrei na Wikipédia, uma menção a um “Apeadeiro do Pinheiro“. De acordo com a tabela de preços datada de 1906, aquando da inauguração do troço ferroviário de Tavira a Vila Real, este apeadeiro devia ser ao invés uma “paragem” (que aparece com um “P” a seguir ao nome) ficava entre as estações de Conceição e…

Encontrei na Wikipédia, uma menção a um “Apeadeiro do Pinheiro“. De acordo com a tabela de preços datada de 1906, aquando da inauguração do troço ferroviário de Tavira a Vila Real, este apeadeiro devia ser ao invés uma “paragem” (que aparece com um “P” a seguir ao nome) ficava entre as estações de Conceição e Santa Rita, junto de uma Quinta com o mesmo nome. Não tenho conhecimento de nenhuma quinta com esse nome na zona rural envolvente da linha do comboio.

Tabela de preços praticada entre as estações da linha do Algarve (1906). É feita a referência a na altura o “apeadeiro” ser apenas uma paragem, a passar ser apeadeiro no futuro.

A estação de Santa Rita fica junto do sitio da Caiana, lugarejo junto da EN125 aonde passa o Ribeiro do Lacem com vendas e cafés. Portanto, este Apeadeiro haveria de ficar entre a estações da Conceição e de Santa Rita. Antigamente a EN125 atravessava a linha de comboio numa passagem de nível, cujas ruínas da casa do guarda ainda se podem ver do viaduto que foi construído nos anos 60. Continuar a ler “A Paragem Ferroviária do Pinheiro”

A “Azinhaga dos Defuntos”

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Uma muralha dentro da propriedade vizinha…

Aproveitando o facto de hoje ser o “dia dos mortos”, uma festividade que pouco ou nada tem a ver a Liturgia Católica (mas então o carnaval tem?), aproveitei para vir falar dum velho caminho, quiçá esquecido dos mais jovens, que era chamado de “Azinhaga dos Defuntos”.
No passado dia 16 de Setembro, domingo, de manhã, aproveitei para ir ver no terreno se ainda existiam vestígios da chamada “Azinhaga dos Defuntos”, um caminho rural da freguesia, que segundo tinha ouvido contar por um amigo de Cabanas – ( o “grande” Hermínio Afonso) que viveu a infância na antiga fazenda do Benamor, onde o avô era caseiro – que a delimitava pelo lado leste. Dizia ele que tinha esse nome pelo facto de as pessoas da Serra transportarem por ele os corpos dos seus entes queridos antes de lhes darem os últimos sacramentos na Igreja, celebrarem o seu funeral e transportarem-no para a sua derradeira morada. Ora sendo a Conceição freguesia desde o século XVI e a Quinta do Benamor também antiga, terão decorrido uns quatrocentos anos em que esta “azinhaga” (ou caminho rural) deve ter sido efectivamente usada, perdurando na memória oral colectiva da população a existência desse caminho. Acontece que, ao chegar à povoação, atravessava por um vau o Ribeiro da Conceição para a outra margem (uma vez que o leito do ribeiro vem de nordeste). E dizia mais o meu velho amigo que esse caminho depois continuava pela margem esquerda do ribeiro até terminar na Conceição junto da chamada “Casa Velha”, um estabelecimento situado logo a seguir a passar por cima do ribeiro, do lado norte da Rua 25 de Abril.

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Praça da República ao longo dos últimos 150 anos

Esta galeria  mostra como foi a actual Praça da República, centro de Tavira, com os Paços do Concelho e a Ponte Romana, desde 1880, grosso modo, ainda em monarquia liberal (chamava-se praça da Constituição) até aos anos 60-70  do século XX (data da construção da ponte da EN125 que tirou o trânsito do centro da…

Esta galeria  mostra como foi a actual Praça da República, centro de Tavira, com os Paços do Concelho e a Ponte Romana, desde 1880, grosso modo, ainda em monarquia liberal (chamava-se praça da Constituição) até aos anos 60-70  do século XX (data da construção da ponte da EN125 que tirou o trânsito do centro da cidade). Tentei dar o que me pareceu ser a ordem cronológica mais intuitiva, sem na posse efectiva de qualquer espécie de datas.

Actualizei a galeria com fotos a cores para ficar com a galeira mais “completa”, chegando até aos dias de hoje, e das alterações que sofreu com o “efeito Macário”.

Fontes de foram obtidas as fotos:

 

Jornal "Povo Algarvio"

Curioso tenho eu andado a querer saber mais de cada uma das pontes de Tavira. Da romana, já muito se escreveu e disse, que não é romana, se bem que a forma dos seus arcos ainda faz lembrar as típicas pontes romanas, que foi alvo de sucessivas reconstruções ao longo de séculos, etc.
Das outras pontes, as que foram construídas já neste século as mais antigas são as pontes ferroviária (concluída em 1905, salvo erro) e a ponte da Estrada Nacional 125 ou “Ponte do Séqua”, inaugurada em 1968.
Há mais pontes, eu sei, foram construídas mais três e uma delas era apenas para servir de solução provisória (Ponte das forças armadas), a Ponte das Salinas ou Ponte Nova, e a Ponte de Santiago ou simplesmente “Ponte Azul” (eu prefiro-lhe chamar “Ponte da Belafria”). Se contarmos a Ponte de São Domingos, que já está fora do perímetro urbano, são ao todo actualmente sete pontes (sem contar o viaduto da A22), mas que servia evidentemente para os moradores da Serra poderem atalhar caminho sem terem que descer toda a margem esquerda e internarem-se pelo sector “leste” da cidade para depois atravessarem a Ponte Romana e chegarem ao mercado. Sob esta última ponte ainda não consegui encontrar nada na bibliografia e a respeito do convento associado consagrado ao mesmo santo.
Relativamente à Ponte do Séqua, existe uma inscrição do próprio ano de inauguração à entrada da ponte:

JAE (1968)

Alguém me sugeriu (concretamente, o amigo Ofir Chagas), que consultasse o “Jornal Povo Algarvio” referente às datas entre 1966 e 1968. E assim fiz, desloquei-me à biblioteca municipal, da qual tenho cartão de leitor – biblioteca, aliás, ainda está em obras – pedi pelos volumes referentes àqueles anos e o que me puseram nos braços foi três capas volumosas com a compilação deste jornal para os anos referidos. Acontece que os exemplares do dito jornal não era já o papel original, mas apenas fotocópias. Não que isso diminuísse a qualidade da consulta e o meu propósito. Mas o papel das fotocópias é mais pesado que o papel de jornal, e o peso dos volumes das compilações eram bem pesados. Só estes três volumes anuais de jornal preencheram a capacidade disponível máxima dos meus braços para agarrar, de forma que quando entrei na sala de leitura tive sorte de um passante me abrir a porta por inteiro para eu poder passar porque, como disse, estava com os braços completamente ocupados com os ditos três volumes. Sentei-me ali logo nas primeiras mesas à direita que dão para o pátio, ainda em obras e que eram o pátio da antiga prisão, e depois de desarmar o laço que segurava as capas do ano de 1966, dei-me de caras com a edição de Ano Novo de 1966.
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As terras da Gomeira, onde começavam e onde terminavam!?

Ou por outras palavras, as “Terras da Ordem”, visto que as “terras da Gomeira” foram concedidas pelo rei Afonso III no seu foral a Tavira à Ordem de Santiago. Terminavam e começavam onde ?! Eu já tive oportunidade de discorrer sob este assunto no primeiro post que fiz neste blog, e que está também na…

As terras da Gomeira, onde começavam e onde terminavam!? foi publicado originalmente aqui

As terras da Gomeira, onde começavam e onde terminavam!? foi publicado originalmente aqui

Ou por outras palavras, as “Terras da Ordem”, visto que as “terras da Gomeira” foram concedidas pelo rei Afonso III no seu foral a Tavira à Ordem de Santiago. Terminavam e começavam onde ?!

Eu já tive oportunidade de discorrer sob este assunto no primeiro post que fiz neste blog, e que está também na razão de lhe ter dado o nome de “Historias da Gomeira”. Visto que o blog iria incidir sobretudo a história antiga e recente das terras que hoje em dia pertencem à denominada “União de Freguesias de Conceição e Cabanas de Tavira”, que tem uma parte rural, serrana, e uma parte urbana, que está sobretudo implanta litoral. Ao falar de Gomeira terei implicitamente de me referir a todas as terras que fariam parte implícita dessa antiga herdade referida por Afonso III no seu foral e cedidas à ordem de Santiago.  E para fazer uma delimitação de um terreno, terei de achar os quatros lados da figura, cada um respeitante a um ponto cardeal: já sabemos, que para sul a Gomeira era limitada pelo mar, falta descobrir os limites para norte, este e oeste.

Nada disso vem referido no documento do Foral Antigo, apenas se referindo à “Gomeira”. Se formos pelo facto de na história, todos os terrenos da Ordem terem sido administrados por comendadores (no caso de Cacela) e/ou foreiros (que aforravam directamente à Ordem ou ao comendador), no caso da Conceição, penso que estamos perante foreiros. O que é certo é que relativamente a notícias a respeito da Gomeira após 1266, data do Foral Velho, existe novas notícias apenas em 1483, citados por Anica(1993), com mais pormenor em (Anica,2008), baseando-se em ambos os casos, em Cavaco(1987).

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Henrique Correia da Silva (?1560?-1644)

A personalidade de que vou biografar neste artigo não tem nenhum monumento à altura do desempenho que teve na história de Portugal, e, nomeadamente, do Algarve. A única coisa que encontrei mais parecido com uma homenagem o facto de dar o nome a uma rua em Lagos, e pouco e nada mais. Desde que o…


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A personalidade de que vou biografar neste artigo não tem nenhum monumento à altura do desempenho que teve na história de Portugal, e, nomeadamente, do Algarve. A única coisa que encontrei mais parecido com uma homenagem o facto de dar o nome a uma rua em Lagos, e pouco e nada mais.

Desde que o descobri pela primeira vez nos livros do capitão Anica, enquanto alcaide de Tavira e mais tarde governador do Algarve, e vindo referido noutras fontes, referindo que ele haveria acompanhado o cortejo funerário de um corpo que supostamente seria da malogrado D.Sebastião desde o Algarve até Lisboa, em 1581, logo a seguir à entrada de Filipe II de Castela para o trono português.

O que é curioso a respeito de Henrique Correia da Silva, é que ele esteve presente nos dois momentos em que Portugal perdeu e readquiriu a sua independência, para além de ter estado presente na batalha fatal, Henrique Correia da Silva foi alcaide-mor de Tavira – sucedendo ao pai –  e já perto dos oitenta anos recebeu o cargo de governador geral das Armas do Reino do Algarve, nomeado pelo último Filipe rei de Portugal. E, apesar de prestar vassalagem ao último Filipe, foi ele que acabou por aclamar o duque de Bragança como o primeiro rei de Portugal restaurado na cidade de Lagos.

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O secretário-de-estado “Corte-Real”

Diogo de Mendonça Corte-Real, um tavirense secretário de estado de João V e personagem na série de TV “Madre Paula”.

Tenho acompanhado a par e passo a série a ser exibida na RTP às quartas-feiras Madre Paula, não só por se tratar de uma produção histórica, algo ficcionada baseada no romance homónimo de Patrícia Müeller sobre as aventuras amorosas do rei magnânimo João V no Convento de Odivelas, mas também pela presença do secretário-de-estado chamado apenas de “Corte-Real” durante a história. Acontece que o nome completo deste senhor é Diogo de Mendonça Corte-Real, e nasceu em Tavira a , 17 de junho de 1658 , na então conhecida por Rua da Mó Alta(Chagas, 2004)(1) e descendente de um ramo colateral (os “Mendonça Corte-Real”) do tronco original “Corte-Real” de Tavira do século XV(2).  Na série televisiva, o papel é desempenhado pelo actor Guilherme Filipe .

Este D. Diogo estudou leis em Coimbra e serviu de embaixador na Holanda (então  chamada “República das Províncias Unidas”) a Pedro II, pai de João V.

Portugal e a Holanda, viviam,  desde o início do século XVII, e com a criação da Companhia das Índias Orientais por parte dos holandeses, um estado de guerra quase permanente, conquistando muitas possessões portuguesas e fazendo pirataria ao nosso comércio marítimo. Por virtude de Diogo de Mendonça Corte-Real, os estados gerais da Holanda concederam em pagar uma indemnização de Oitenta mil patacas a Portugal.

Como prémio deste feito, Pedro II considerou movê-lo para embaixador em Espanha e por lá se manteve durante dez anos, até regressar a Portugal por virtude da Guerra de Sucessão Espanhola. Esteve envolvido por parte de Portugal nas negociações do tratado de Utreque, que pôs termos ao conflito e que da parte do Portugal ajudou ao reconhecimento da colónia portuguesa entre os Rios Amazonas e Oiapoque, para além da soberania da colónia do Sacramento, actualmente dentro do Uruguai.

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Postal da Conceição com 200 anos à mistura

Este desenho do sítio da Conceição tem pelo menos 230 anos e saiu das mãos do engenheiro e brigadeiro José Sande de Vasconcelos. A legenda está praticamente ilegível e parecem serem visíveis várias casas e uma pessoa que possivelmente o desenhador pediu para posar no centro e que penso corresponder ao da fonte que existia…

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Prospecto do Lugar da Conceição tirado do ponto a segundo o Coronel José Sande de Vasconcelos, parte de “Cidade de Tavira e seus arredores”, datado de 1780 (original: http://purl.pt/22228

Este desenho do sítio da Conceição tem pelo menos 230 anos e saiu das mãos do engenheiro e brigadeiro José Sande de Vasconcelos. A legenda está praticamente ilegível e parecem serem visíveis várias casas e uma pessoa que possivelmente o desenhador pediu para posar no centro e que penso corresponder ao da fonte que existia (Anica, 2008) onde é agora o Parque Infantil. Ao fundo, à direita vê-se as costas da Igreja. Apercebemo-nos de uma rua que corre de uma ponta à outra do desenho, que penso que seja a Estrada Real que ia de Tavira a Castro Marim, o caminho para as Cabanas devia estar por aqui, um bocado mais para a direita, ou se calhar nem visível. Afinal naquela altura Cabanas já aparece em documentos e além do mais, teria que existir um caminho para o Forte de São João.

Sande de Vasconcelos na carta afirma que o desenho foi tirado do ponto a (pode-se ver onde está esse ponto na carta militar de que este desenho vem incluído),  que penso ser o terreiro onde os carros estacionam actualmente e que fica do lado esquerdo da Rua 25 de Abril para quem entra em Conceição vindo da Nacional 125 via Rotunda do Golfista (ou devia chamar-lhe Rotunda do Benamor ?) . O problema é que o tempo gastou de forma irrecuperável este documento. Mais sorte teve o desenho que engenheiro e cartógrafo militar com patente de Brigadeiro e mais tarde de Coronel fez de forma semelhante da Luz. Muita história ainda há-de se contar a respeito deste senhor. É aliás, de um excerto da mesma carta que foi extraído o banner deste blog, que comprova a primeira referência a Cabanas num mapa (apesar de haver registos de habitantes desde 1740).

A Quinta d'El Rei

Oforalvelhotavira1266 primeiro foral concedido a Tavira por Afonso III (1266) consagrou a criação da chamada Quinta D’El Rey, que fazia parte do chamado Reguengo de Tavira que era o nome que se dava ao conjunto de todos os bens reservadas por sua majestade no texto do dito foral. Deste reguengo estavam também incluídos os pertences do anterior governante mouro de Tavira, Ibn Fabilah, para além das salinas, moinhos, lagares e vinhas do dito líder mouro.
Todos os bens produzidos nessa quinta eram pertença do soberano, e livres de impostos. O que aconteceu durante algum e até à venda da dita Quinta a particulares é que a Quinta foi sendo aforrada (ou concessionada) a diferentes individualidades, como Fernando Álvares Pereira (séc. XIV), irmão do famoso Nuno Álvares, e mais tarde a alguns elementos da família Corte Real original de Tavira, primos afastados do santo condestável (século XVI a XVII). Da família Corte-Real transitou para a Condessa da Calheta já no século XVII. Daqui foi doada às irmãs de Santo Alberto (Anica, 1993),  com convento em Lisboa, por via do facto da condessa ter entrado para o referido convento. Daqui transitou para outro proprietário, em 1771 pertence ao magistrado tavirense João Leal da Gama e Ataíde, ficando nesta família até 1854 quando a descendente a vende a José de Conceição Camacho e Luís António Teixeira Peres (Anica,1993). Estes por sua vez foram trespassando o terreno a outras individualidades, até que a Câmara a compra em 1960 , para dar início à urbanização daquela zona rural em plena cidade .
A fotografia que se divulga aqui dá conta do momento do actual Tribunal em Tavira, por volta dos anos 60, julgo. Como se pode bem ver, para além da omnipresença do telhado de tesouro, temos a construção de um edifício moderno, que se destaca, destinado a funções administrativas do Estado em plena zona verde da cidade.

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Construção da actual Casa da Justiça em Tavira (1960). Na foto podem-se ver as modernas ruas Silvestre Falcão (em frente) e a Rua Augusto Carlos Palma, com a qual a outra faz esquina. Do outro lado da rua haveriam de surgir as mordenas instalações da Telecom. Foto encontrada em https://www.pinterest.pt/libertex66/tavira-antiga/ .

O que ressalta sobretudo é uma ilha de casas modernas construída já durante o século XX que se encontra completamente rodeada pelo casario mais antigo que subsistiu na cidade. A Casa da Justiça de Tavira, o enorme prédio de dez andares que esteve anos por ser terminado do outro lado da rua Silvestre Falcão e que deixou um grande buraco à vista pelos alicerces durante o meio dos anos 80. Todas aquelas casas que vão até às traseiras do antigo Hospital do Corpo Santo (actualmente o colégio da Misericórdia) até à entrada principal do Quartel Militar da Atalaia pertenciam a este espaço agrário reservado a sua majestade, para Leste ele era limitado pela Rua do Montalvão e por Norte pelas casas que se vêm na foto, da antiga Rua Nova Grande, actualmente Rua da Liberdade.
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Fortes, muralhas e castelos para proteger dos males que vêm do mar

Diziam os astecas quando viram a chegada das naus castelhanas vindas do mar comandadas por Hernán  Cortez em 1521 que se concretizava a profecia da vinda do seus Deus Quetzálcoatl, a serpente emplumada, que haveria de preparar o fim do Império Asteca. A costa algarvia podia não estar ameaçada pelos castelhanos, pois já era bem…

Diziam os astecas quando viram a chegada das naus castelhanas vindas do mar comandadas por Hernán  Cortez em 1521 que se concretizava a profecia da vinda do seus Deus Quetzálcoatl, a serpente emplumada, que haveria de preparar o fim do Império Asteca.

A costa algarvia podia não estar ameaçada pelos castelhanos, pois já era bem conhecida deles, mas também não estava a salvo da investida de corsários e piratas esclavagistas mouros que gostavam de pilhar sobretudo as igrejas e os conventos locais e sequestrar populares para venderem como mão-de-obra escrava.

Não existem relatos concretos de investidas da pirataria moura, mas as mais antigas fortificações na zona da Ria Formosa, ao contrário das da linha da Foz do Tejo, não resistiram a maior parte delas em virtude do grande dinamismo deste troço da costa algarvia. De modo que as poucas fortificações que ainda subsistem são precisamente as que foram erguidas do lado interior da Ria, e não as que foram erigidas nos próprios cordões dunares.

Um dos mais antigos mapas conhecidos do Algarve, supõe-se que desenhado em meados do séc. XVIII, uma vez que Vila Real de Santo António ainda não surge nele, refere vários fortes na zona da Ria, alguns bem conhecidos e que sobreviveram (Rato, chamado de Forte Velho no mapa, São João da Barra, assinalado como da nova barra de Tavira e, finalmente, Cacela) e outros que foram submersos (São Lourenço) na saída para o mar dos portos de Olhão e Faro. Não são conhecidos mais fortes nas ilhas da zona de Faro que tivessem sobrevivido à erosão.

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Excerto de mapa da costa leste algarvia de meado do séc. XVIII.

Na cartografia dos espaços fortificados existentes em finais do século XVIII é de destacar o papel do engenheiro militar José Sande de Vasconcelos. Responsável pelo governador militar do Algarve por inventariar o estado de todas as baterias e fortificações costeiras, para além de ter estado envolvido na construção do Quartel da Atalaia em Tavira e na edificação do zero de Vila Real de Santo António, histórias que ficarão para desenvolver noutras oportunidades. Para além de referir as mais bem conservadas : que são do Forte de Santo António (ou do Rato) em Tavira, São João da Barra em Cabanas e o Forte de Cacela. O denominador comum destes fortes é o mesmo: eles foram erigidos para defender a margem interior terrestre da Laguna das investidas de um atacante pelo mar consoante a localização da Barra Natural na época de construção: enquanto que o forte de Santo António foi erigido em meados do século XVI, pouco antes da malograda aventura de Alcácer Quibir, o de São João da Barra (que conserva no nome a origem da sua localização, foi terminado após o fim da guerra da restauração que se seguiu ao 1º de Dezembro) onde perto veio a crescer a povoação de Cabanas de Tavira e finalmente o forte de Cacela, erigido mais tarde quando o prolongamento do cordão dunar tornou necessário também a existência de uma fortificação. Para mais, a fortificação de Cacela é um elemento moderno numa porção de uma povoação que perdeu população e que era sede de concelho que separava Tavira de Castro Marim (extincto pela criação do concelho de Vila Real). É de crer que no passado Cacela seria defendida por um poderoso castelo de maior dimensão: o castelo de Cacela que foi conquistado aos mouros pelos cavaleiros da Ordem de Santiago. Continuar a ler “Fortes, muralhas e castelos para proteger dos males que vêm do mar”